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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Robocop

Robocop, de Paul Verhoeven, de 1987, é um filme de ficção científica de acção sobre um agente da polícia assassinado que é convertido num ciborgue e se torna uma arma fundamental no combate ao crime numa Detroit futurista decadente.

Ok, dito assim, o filme não parece nada de especial, mas na realidade tem bastante que se lhe diga (ou não estaria para aqui a falar dele) .

Trata-se de uma obra bastante violenta, com alguns momentos particularmente brutais - são bons exemplos disso a cena em que um robô ED-209 avaria durante a sua apresentação e metralha um executivo da empresa até o retalhar e a cena da execução de Alex Murphy (o futuro ciborgue) às mãos de uma gangue de criminosos - mas ultrapassando essa primeira impressão, apercebemo-nos de que é um filme com múltiplas camadas (usando a analogia do Shrek, é uma "cebola") o que o torna bastante interessante.
Aviso: se o vosso interesse é só a acção violenta, se calhar podem parar de ler aqui. O filme tem acção e violência de sobra. Se o encontrarem, divirtam-se! Se não, continuem a aturar-me mais um pouco enquanto filosofo um bocadinho.



Então, para além da já mencionada violência, que dá o tom ao filme que se adequa ao contexto de uma cidade em crise, com a própria polícia em falência, e à qual Verhoeven dá rédea solta, podemos encontrar alguns temas mais ou menos presentes ao longo da metragem:

Desumanização. Resulta da violência, da crise subjacente à história criada pela maquinação da empresa "protagonista", a qual tem um nome consumista adequadamente vago (Omni Consumer Products, ou OCP para os amigos) que contribuem para um ambiente opressivo e desesperante (parece familiar?). É representada pelo ED-209, um autómato que visa substituir as forças policiais humanas e pela própria conversão do protagonista numa máquina, sobre o qual se diz que "é um produto da empresa".

Re-humanização. Em oposição ao ponto anterior, é representada pela reconquista de Murphy das suas características que o tornam, bem... Murphy. Após a sua conversão em ciborgue, o seu comportamento vai-se alterando de máquina fria e eficiente até voltar a ser a pessoa que era antes (tanto quanto possível, obviamente, dado que basicamente só possuía a face, parte da cabeça e alguns dos órgãos originais). Isso torna-se mais evidente na cena final do filme, em que quando lhe perguntam o nome, ele responde laconicamente "Murphy".

Um tema curioso, sobre o qual li algumas coisas há uns tempos atrás (infelizmente não me lembro onde): estes dois processos, conversão a máquina e reconquista da humanidade são descritos como alusões cristãs de Verhoeven (que além de se dedicar ao cinema, é um estudioso da vida de Cristo, a modos que um historiador sobre o mesmo). A execução de Murphy é comparada à crucificação e a sua conversão e reactivação como homem-máquina, à Ressureição. Há ainda uma cena alusiva à temática cristã, que normalmente passa despercebida: perto do fim do filme, Murphy está a caminhar numa superfície alagada, dando a ilusão que caminha sobre a água...

Observam-se ainda outras alusões à época (anos 80) - o consumismo e cultura yuppie, retratado pela OCP e os seus executivos; os resquícios de uma Guerra Fria que se aproximava do fim, ilustrado pela notícia referente às plataformas do programa "Guerra das Estrelas".

O filme, nalguns aspectos, envelheceu um bocadinho pior; numa visualização actual é impossível não achar piada ao "look 80" de algumas personagens e a animação stop-motion do ED-209 tem um aspecto datado (embora não o torne menos ameaçador).
Ah, e a cena em que o Emil entra com a carrinha pelo lixo tóxico dentro e sai de lá a derreter... he,he!

A tríade Peter Weller/Kurtwood Smith/Ronny Cox desempenha os seus papéis de forma impecável e temos, na minha opinião, outro ponto que merece menção - a música. Desde melodias pungentes (tais como quando Murphy começa a recuperar a memória e perceber o que perdeu e no que se tornou), a momentos  mais mecânicos perfeitamente em sintonia com o tema Polícia-máquina.

O filme gerou 2 sequelas.
O Robocop 2 é um filme interessante, embora mais orientado para a acção e em que os aspectos mais filosóficos que citei estão bastante aguados ou inexistentes, não deixando de ter os seus pontos altos.
O Robocop 3... bem... O Robocop torna-se ama-seca de uma miúda, enfrenta robôs japoneses ninja e derrota os motins anti-polícia com um jetpack às costas. Como diria um certo Diácono, "não havia necessidade".

E agora, parece que está um remake na forja. Tenho medo.

Este post já vai longo, mas é de facto um dos meus filmes favoritos do género e falar dele entusiasma-me. (Perdi a conta às vezes que o vi).

Só para terminar, algumas frases giras:

ROBOCOP: "Dead or alive, you are coming with me."

ANNE LEWIS: "Murphy. It's you!"

ROBOCOP: "Your move, creep."

ED-209 (antes de avariar durante a demonstração): "Please put down your weapon. You have 20 seconds to comply"

ROBOCOP (para CLARENCE): "I'm not arresting you anymore."

LEWIS: "Murphy, I'm a mess."
ROBOCOP: "They'll fix you. They fix anything."

OLD MAN: "Nice shooting, son. What's your name?"
ROBOCOP: "Murphy."

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