Benvindos!


Bem-vindos!

Neste blogue iremos encontrar (ou reencontrar) pedaços da imaginação e criatividade humana nas mais diversas formas e feitios - Livros, Banda desenhada, Cinema, TV, Jogos, ou qualquer outro formato.

Viajaremos no tempo, caçaremos vampiros e lobisomens, enfrentaremos marcianos, viajaremos até à lua, conheceremos super-heróis e muito mais.

AVISO IMPORTANTE: pode conter spoilers e, em ocasiões especiais, nozes.


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Leonard McCoy, Frontier Doctor

A IDW, uma das editoras de renome da actualidade no campo da banda desenhada, está no activo há alguns anos. Uma das primeiras séries lançadas pela editora, 30 Days of Night, grangeou-lhe fama, mantendo-se ainda hoje no seu catálogo de publicações. A editora cresceu, adquirindo direitos sobre várias séries famosas, tais como G.I. Joe e Transformers, e outras de culto, como Mars Attacks e Doctor Who. O franchise Star Trek é mais um exemplo.
 
2º número
1º número
Esta mini-série em 4 números, da autoria de John Byrne, retrata algumas das aventuras de Leonard McCoy, também conhecido como "Bones", o famoso médico da nave Enterprise, a solo.
 
Bem, a solo, não totalmente. Bones é acompanhado por outro médico, o jovem Jon Duncan e a Andoriana Theela. Juntos, vão viajar por várias partes da galáxia e ao longo da série, enfrentam várias ameaças e problemas (de índole médica ou não), incluindo uma civilização de clones que lutam eternamente entre si, um planeta cuja vegetação é muito mais do que aparenta e mesmo um vírus inteligente, cujo tratamento passa por... conversar com os infectados.
 
3º número
Nessas andanças, surgem, como personagens de fundo, múltiplas caras conhecidas - Jim Kirk, agora almirante, e a quem Bones relata - sob a forma de manuscrito - as suas aventuras; Scotty, o engenheiro; Christine Chapel, a antiga enfermeira, agora com treino médico; entre outros.
 
4º e último número - em homenagem a
Rembrandt, com a sua "Lição de Anatomia"
Cronologicamente, a série passa-se no período após a série original (a mítica missão de cinco anos que só durou três temporadas) e o primeiro filme. Byrne aproveita assim para usar uma estética um pouco mais "madura" do que o aspecto exagerado da série (de resto, também o conseguiu em parte na saga sobre os Romulanos, também publicada pela IDW) e mais baseada no primeiro filme.
 
Aliás, Bones aparece, basicamente, nos mesmos preparos com que foi "recrutado" no início desse mesmo filme, com barba comprida e tudo. O personagem mantém o seu carácter honesto e contundente do costume, embora não tão mal-disposto - como o próprio Kirk afirma, "Se ele não tem cuidado ainda vamos pensar que ele se está a divertir".
 
Numa altura em que o franchise Star Trek se encontra a ser reformulado de raiz, já com dois filmes na fase reboot, esta série vale a pena para revisitar um dos personagens mais emblemáticos, pela mão de Byrne, também ele um criador com um estilo muito próprio e um nome lendário no meio.
 
A versão original do "Bones Barbudo", em Star Trek - The Motion Picture






terça-feira, 17 de setembro de 2013

A Loja dos Suicídios

Num futuro distópico não definido (mas em que o séc. XXI é referido como passado), em que países inteiros foram destruídos por desastres naturais, chove ácido sulfúrico e o Mónaco cria exércitos de bombistas suicidas, a família Tuvache tem um negócio (em 10ª geração) de assistência ao suicídio.

Situada na Cidade das Religiões Esquecidas, a Loja dos Suicídios fornece tudo o que o cliente desejoso de morrer possa precisar para levar a cabo tal empreendimento. É uma loja em que os clientes, se bem servidos, não tornam a aparecer.
A loja é dirigida pelo casal Mishima e Lucrèce (ou Lucrécia, na tradução), ajudados pelos filhos, Vincent (nomeado em honra de Van Gogh e ele próprio um artista depressivo, que ambiciona montar um parque temático sobre suicídios) e Marilyn (nomeada em honra de Marilyn Monroe, e que apenas contraria as suas próprias tendências suicidas porque é precisa na loja).
Trata-se, assim, de um negócio para toda a família.

Bom, a família toda não. O filho mais novo, Alan (com nome em honra de Alan Turing), que nasceu por causa de os pais andarem a testar preservativos porosos (desenhados para permitir a propagação de DSTs), é a antítese da família. Demonstra uma alegria de viver alarmante, o que os pais vêem como um entrave ao negócio. Consegue ser expulso da academia de bombistas suicidas devido à sua constante boa disposição.
Embora inicialmente repudiado pela família (até porque enxotava os clientes), ao longo da história a sua influência modifica radicalmente as vidas dos que os rodeiam, tanto família e clientes, e transforma o negócio - de lúgubre passa a ser um ponto de encontro e de boa-disposição, um foco luminoso numa sociedade sombria e desesperada. E assim a história evolui até ao final surpreendente, algo desconcertante (que não conto, já que coloquei spoilers suficientes neste texto).

Embora este livro de Jean Teulé tenha como fundo elementos de ficção científica (como a degradação do planeta, a presença de TV a 3D em que os espectadores conseguem interagir com o cenário ou soros que quando injectados fazem com que as pessoas passem a segregar veneno na saliva), a história em si é intemporal - um conto de esperança e de positividade que podia ser integrado em muitos outros contextos, e que, não obstante o título, possui um humor muito próprio, que, no fim da leitura, já não é tão negro...


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Mickey e a Guerra dos Mundos

Capa da recente edição em inglês. A acompanhar o
protagonista Mickey temos o Pateta como "O'Goofy",
uma alusão a Ogilvy, um dos personagens do original.
A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells é, como já expliquei noutro post, um clássico da literatura não só de ficção científica como da literatura em geral.

Assim, é natural encontrar adaptações a vários outros meios, como o cinema e, neste caso, a banda desenhada. Na realidade, existem múltiplas adaptações, algumas mais célebres que outras. Esta é uma delas, da qual guardo boas recordações - a versão Disney, com o Mickey Mouse como protagonista (a encarnar o narrador anónimo da versão original).



Originalmente produzida em Itália (um dos mais prolíficos países, se não o mais prolífico, no que toca à criação de BD da Disney), é uma adaptação que segue com bastante fidelidade o enredo original.


Naturalmente que, tendo o público infanto-juvenil como alvo, a história é simplificada e aligeirada - embora os marcianos sejam detentores de raios de calor e do letal fumo negro, não provocam uma única baixa - apenas danos materiais e alguns traseiros chamuscados.
Eis que surgem os trípodes.
Capa de uma edição em Italiano
Mais, os marcianos são refilões, falam por hieroglifos e conseguem não ter nada do ar grotesco que normalmente os caracteriza. Embora pareçam, para ser honesto, um cruzamento entre um cão e um polvo. OK, isto parece estranho dito desta maneira. Creio que só vendo para entender.

De resto, temos o enredo das quedas dos cilindros, dos ataques marcianos a partir das crateras, os incortonáveis trípodes (sendo que nesta versão me parecem mais funcionais que em muitas outras que já vi), as fugas, a resposta humana (ou mais propriamente, humanóide) e a derrota dos marcianos pelas doenças terrestres. Tal como com os invadidos, ninguém morre entre os invasores, mas ficam muito constipados e decidem ir-se embora. E, já que têm um nariz batatudo à boa moda da Disney, ficam com bastante pingo.


Uma versão mais bem-humorada deste clássico, e uma boa maneira de o dar a conhecer aos mais novos.

 
Uma edição em português pela Editora Abril

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Iron Man - Rise of The Technovore

Este filme de animação do Homem de Ferro, "Rise of the Technovore", é algo de invulgar.
Trata-se de uma produção japonesa em parceria com a Marvel, e é, desse modo, um filme com mais de Anime (animação japonesa) do que de animação ocidental.
A história envolve um ataque contra Tony Stark (o Homem de Ferro) por um inimigo misterioso que usa uma bioarmadura com tecnologia que nem Stark conseguia produzir, na altura em que as empresas do herói se preparam para colocar em órbita um satélite de vigilância topo de gama. Nesse ataque, o melhor amigo de Stark, Jim Rhodes (o War Machine) é morto, entre múltiplas outras baixas.
Stark passa a ser perseguido pela SHIELD, que investiga o ataque e quer apurar o envolvimento do herói no mesmo; após um confronto com mandroids numa das suas propriedades, enceta uma fuga para tentar descobrir a identidade do seu atacante misterioso, passando a ser caçado por dois agentes de topo (os heróis Hawkeye e Viúva Negra) e procurando o apoio do vigilante Punisher.
Posteriormente consegue descobrir quem o atacou (sendo que o atacante tem uma relação importante com o passado de Stark - e que é paralela à sua versão na BD) e ainda mais, o plano desse inimigo, que, a ser concretizado, poderá destruir a civilização como a conhecemos.
O elenco de heróis do filme... falta só o Nick Fury
Bom, tentei não revelar demasiado da história; passo então a analisar alguns dos aspectos do filme.
Como referi, o filme é essencialmente um Anime, e tal vê-se desde o início. A estética é típica dos filmes japoneses (embora o design dos personagens seja uma amálgama do material de origem da BD americana e dos filmes do universo cinemático da Marvel, mais concretamente os do Homem de Ferro e dos Vingadores), o que é muito patente no inimigo misterioso de Stark e no seu quartel e no conflito final do filme (com aspectos conceptuais que me faziam recordar, à cabeça, os filmes e série do Ghost in the Shell e a colecção de curtas Animatrix).
Homem de Ferro em versão Anime.
A história, embora pudesse perfeitamente ter sido criada por americanos, tem alguns momentos de reflexão  sobre tecnologia que envolvem alguns conceitos filosóficos, especialmente no discurso do vilão, o que a torna mais oriental.
A inclusão de múltiplos elementos visuais retirados dos filmes da Marvel fazem pensar que o filme será parte desse universo cinemático. Provavelmente, não oficialmente.
Onde senti mais falhas foi nos diálogos do protagonista - creio que tentavam adoptar em vários momentos a pseudo-imaturidade patente nos filmes, mas sem grande sucesso. Os restantes diálogos não estão mal conseguidos, especialmente os do vilão e os do Punisher. Ainda aqui, os actores de voz apenas conseguem um trabalho competente, mas sem grande brilho (refiro-me aos actores da versão em inglês, que foi a que eu vi); provavelmente os da versão japonesa transmitiriam mais entusiasmo. Mesmo assim, iria ser algo irreal ouvir o Homem de Ferro a gritar em japonês...
O filme é, em suma, uma abordagem diferente por orientais de um personagem ocidental, abordagem essa que se torna interessante, apesar de poder causar alguma estranheza...
O vilão. Um personagem que não destoaria em histórias nipónicas
tais como as da série Evangelion.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

LEGO Lord of The Rings - O videojogo

A capa do jogo
A TT Games (Traveller's Tales) é uma produtora de videojogos que conta no seu currículo com vários títulos baseados em temas especiais da LEGO, tais como LEGO Star WarsLEGO Indiana Jones, só para dar dois exemplos.
 
LEGO Lord of The Rings é um dos títulos mais recentes, e muito bem conseguido. Recria a saga de Tolkien (especialmente a versão cinematográfica) com o espírito e o humor típico da série de jogos LEGO.
 
O jogo inicia-se, tal como na trilogia do cinema, na batalha contra Sauron conduzida por Isildur e pelo pai, bem como por um Elrond séculos mais novo. A grande diferença é que, em vez de nos limitarmos a assistir, participamos nela (e Sauron mete respeito pelo tamanho, embora mais tarde tenhamos a hipótese de o desbloquear como personagem jogável em minifigura).

O tipo alto, escuro e sinistro lá ao fundo é o próprio Sauron.

Depois, sequencialmente recriam-se os principais eventos e batalhas da saga, em níveis contidos num mapa da Terra Média - vamo-nos aventurando pelo mapa e desbloqueamos os níveis ao chegar a determinadas localizações. No fim de cada nível juntamos os personagens desse nível à nossa colecção, e os outros personagens passam a estar disponíveis para compra. Podemos ainda retomar o nível em modo free play a partir do mapa para coleccionar todos os tesouros do mesmo (peças de minikits, objectos do treasure trove, desenhos para novas armas).
No modo free play temos acesso a todos os personagens da nossa colecção, bem como a armas e instrumentos (encontrados ou forjados) que necessitamos para chegar aos locais inatingíveis durante a primeira passagem.
 
Quatro Hobbits à aventura.
 
Ao explorar o mapa e os níveis vamos obtendo tijolos de mithril (o metal lendário da Terra Média), necessários para que, em junção com os desenhos de armas/objectos (também encontrados nos níveis e no mapa), o ferreiro em Bree possa criar esses objectos. Pelo mapa encontramos ainda "fetch quests", nas quais a troco de um objecto do treasure trove ou de um objecto de mithril (que continuam no nosso inventário) recebemos tijolos de mithril extra ou acesso às cheats do jogo, na forma de tijolos vermelhos que podem ser comprados, e que concedem utilidades tais como invulnerabilidade ou multiplicação dos studs que apanhamos - sendo os studs a "moeda" do jogo.
 
Os minikits são pequenas construções alusivas aos níveis, e neste jogo podem ser vistos num salão na cidade de Rivendell. Também neste local temos acesso, depois de completar todos os níveis, ao nível de bónus, em que jogamos com Sauron e Mouth of Sauron, os quais passam também a ficar disponíveis como personagens jogáveis.
 
O rol de personagens é bastante completo, incluindo os heróis da Irmandade do Anel (alguns deles em várias versões), os seus aliados (mesmo o Tom Bombadil, um personagem que considero bastante irritante e que fiquei satisfeito de ver excluído dos filmes) e também os seus inimigos, desde Sauron a Gollum, incluindo os Ringwraiths, Orcs e Uruk-Hai e Grima Wormtongue.
 
Um trio de badasses.
Teria sido interessante que, à semelhança de Sauron, tivessem feito uma versão em minifigura dos Ents, mas não se pode ter tudo... E, pelo menos, pode-se jogar com Ents em 2 níveis.
Sendo figuras de LEGO, mesmo os vilões são figuras adoráveis (e decididamente muito menos ameaçadores que nos livros e filmes).
 
Neste jogo até o Gollum parece simpático...
 
A jogabilidade é semelhante à dos outros jogos análogos da TT Games. Cada personagem tem as suas próprias habilidades (algumas exclusivas), o jogo mistura acção com puzzles; permite que dois jogadores joguem em simultâneo cooperando (o que aumenta a vertente familiar); os puzzles necessitam de personagens e/ou objectos específicos para serem resolvidos, o que nos obriga a revisitar localizações e níveis mais que uma vez para completar o jogo a 100%, aumentando a sua longevidade. Existem ainda múltiplos trophies/achievements, como é mandatório nos jogos actuais, alguns deles criados com bastante humor, como o "One does not simply..." que se obtém... entrando em Mordor "...walk into Mordor".
 
As cutscenes são, de certo modo, reproduções do filme (incluindo nos diálogos, uma adição recente a esta série de jogos que se iniciou com LEGO Batman 2 - previamente as minifiguras eram mudas), com o humor e leveza adequados (afinal, o público alvo destes jogos é bastante jovem). As localizações também estão muito bem reproduzidas; a existência de um mapa do jogo permite viajar rapidamente para as mesmas sem ter que caminhar tudo (ainda é um passeio grande de uma ponta do mapa à outra).
 
Em algumas cutscenes parece mesmo que estamos a rever os filmes.
 
 
O jogo tem os seus bugs ocasionais (um problema infelizmente comum com os jogos da TT Games), mas na minha experiência, nada que destrua a experiência de jogo ou impeça a totalização do mesmo (há inclusivamente um bug que permite atalhar na obtenção de dois troféus, mas não vou ensinar batotas aqui. Elas estão disponíveis em inúmeros locais da net para quem quiser ir procurar).
 
Serei o único a achar que o Frodo era um grande choramingas?
 
Um jogo criado para miúdos mas também, sem dúvida, com os graúdos em mente. Bom para jogar sózinho, com amigos ou família. E tal como sucede com outros títulos LEGO da TT Games, uma das mais cativantes adaptações do material de origem.
 
Eu podia estar, a esta hora, a calcar carvões em brasa. Mas não,
tenho que andar em bicos de pés em cima da neve...
 

sábado, 13 de julho de 2013

Wanted

Wanted, de Mark Millar e J.G. Jones, é uma BD do género super-heroístico... mas com a antítese do género. É uma BD sobre super-vilões.
 
Conta a história de Wesley Gibson, um verdadeiro choninhas, abandonado pelo pai em bebé e que é pisado por todos, que vive com uma namorada adúltera que fornica com toda a gente menos com ele, resignado com uma existência vazia.
 
Um dia, após ser abordado por uma estranha pistoleira, descobre que é filho de Killer, um super-vilão que era o maior assassino de todos os tempos, até ser abatido à traição.
 
Mas, mais ainda, descobre que o mundo é governado secretamente por super-vilões, associados na "Fraternidade", que em 1986 uniram forças para destruir todos os super-heróis, apagando a sua existência do mundo (os sobreviventes nem sabem que foram heróis em tempos). A partir daí dominam o nosso mundo (e atacam outras Terras noutras dimensões e realidades paralelas só por diversão).
 
Como Wesley é o herdeiro de Killer, e não só vai herdar o património do pai como herdou os seus poderes (basicamente, conseguir matar tudo o que quiser), inicia a sua jornada num mundo de violência gratuita e crimes que ficam impunes, com vista a assumir o lugar do pai, permitindo-lhe cortar (ou matar) os laços com a sua vida antiga e vingar-se de todos aqueles que o afrontaram, ou de algum o modo o aborreceram. É treinado por Fox (a vilã que o contactou inicialmente) e integra a "família" do Professor Solomon Seltzer, o vilão supergénio que controla a América. O resto da história ganha proporções mais de história policial do género "mafiosos", com a guerra entre as "famílias" de vilões (cada qual controla um continente), motivadas por vinganças e querelas sobre manter a existência da Fraternidade em segredo ou não.
 
Trata-se de uma BD bastante violenta (algo a que Millar nos tem habituado com outros títulos, especialmente os da série Kick-Ass/Hitgirl), mas que não deixa de ter algum humor bem conseguido, particularmente nas alusões a heróis/vilões mainstream, e mesmo às suas representações no mundo real (como a dos actores que faziam de detective kitsch e sidekick adolescente, uma piscadela de olho à série do Batman dos anos 60). Curiosamente, talvez não da maneira mais correcta (ou politicamente correcta), também serve para reflectir um pouco na evolução da nossa sociedade de consumo e nos valores progressivamente mais vazios da mesma...
 
Numa última nota, esta mini-série foi adaptada ao cinema num filme homónimo mas com alterações radicais no enredo, especialmente no que toca à Fraternidade - nessa versão não há super-vilões nem super-heróis, apenas uma sociedade secreta de assassinos com super-reflexos associados à adrenalina e que tentam dirigir os destinos do mundo eliminando personagens que são ditados nas malhas de um tear... enfim. Basicamente, mantém apenas a premissa de um totó cujo pai era um manda-chuva numa sociedade underground que interfere nos destinos da humanidade e que assume o papel dele após a sua morte. Essa versão vale mais a pena pelas sequências de acção. E até é giro ver as "curve bullets" - balas com efeito.
 
Capa do TPB da edição portuguesa pela
BdMania

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Captain America (1990)

Nos tempos que correm, a tecnologia de efeitos visuais, especiamente os gerados em computador, permite adaptar qualquer super-herói ao cinema, com resultados visualmente credíveis (o resto do filme é que por vezes nem muito...).


Detalhe da capa do DVD. Visto assim dá uma primeira
impressão de que se trata de um filme de jeito...
Nem sempre foi assim, é claro; antigamente os efeitos visuais eram a maior limitação à criação de um filme decente de super-heróis. A versão cinematográfica do Capitão América de 1990, contudo, é um exemplo de filme em que os efeitos visuais fracos são o menor dos problemas...
 
 
 
Passo a explicar:
 
O filme começa na Itália fascista de 1936, em que um ajuntamento de Italianos e Nazis captura um miúdo que supostamente é um génio só porque toca piano muito bem.
Levam o puto de rastos para um laboratório secreto e tremendamente escuro (como é, de resto, metade do filme, sendo que a outra metade é aparvalhadamente clara e desbotada) onde estavam a fazer experiências em ratos, com um processo secreto que os torna duas vezes mais fortes e mais inteligentes, ao mesmo tempo que a pele deles fica vermelha, estalada e sem pêlos (tipo "carne viva").
Aplicam o processo ao miúdo, o que faz com que a cientista chefe do projecto e criadora do processo de transformação fuja, roída de remorsos.

E para onde é que ela vai? Para os EUA, onde nos sete anos seguintes recria o processo, desta vez sem estragar a pele das cobaias. O processo é então aplicado ao jovem Steve Rogers, um suposto deficiente devido à poliomielite e cuja deficiência se manifesta, basicamente, por mancar quando corre, numa maneira reminiscente dos "Silly Walks" dos Monty Python. Para fazer jus à história tradicional, mal o jovem é convertido num super-atleta, a cientista é assassinada por um espião, e como sempre, todos os detalhes do processo estavam na cabeça dela, pelo que o Capitão América é o primeiro e último super-soldado.

O Caveira Vermelha italiano, a sorrir
para a foto. Que simpático.
O Capitão é enviado para uma base inimiga para impedir o lançamento de um super-míssil contra Washington; nessa base enfrenta o super-vilão... Caveira Vermelha. Ou talvez se devesse chamar Cranio Rosso, dado que o famoso vilão Nazi neste filme é... sim, o miúdo italiano. Das várias liberdades tomadas nesta adaptação (algo que é sempre expectável, admito), esta é particularmente atroz. O vilão, mais habituado aos super-poderes do que o herói, consegue derrotá-lo e amarrá-lo ao míssil, que é lançado contra a Casa Branca, não sem perder a mão esquerda no processo (pelo que fica a gritar como uma menina...).
 
 
O Capitão consegue desviar o míssil no último momento, ressaltando de Washington para o Alaska, onde se despenha e fica congelado. É fotografado por um miúdo atónito que cresce para se tornar o Presidente do EUA, e grande adepto de políticas ecologistas (sendo que um Presidente ecologista dos EUA é talvez o ponto mais inverosímil do argumento).

O Caveira Vermelha restaurado. Consegue
ser mais assustador que a versão anos 30/40.
Em 1990, o Capitão é encontrado e descongelado por cientistas Alemães que se encontravam numa base no Alaska e foge para os EUA. Inicialmente encontrado por um amigo do presidente, pensa que tudo é uma armadilha Nazi, até porque é atacado pela filha do Caveira Vermelha. Este último fez um monte de cirurgias plásticas até parecer humano outra vez, pôs uma prótese a substituir a mão amputada e dirige um cartel terrorista com a ajuda da filha; os terroristas são na maioria italianas todas vamps e com sotaques tão falsos como as orelhas do Capitão América (nota: para quem não sabe, não conseguiam adaptar a máscara de modo a que as orelhas do actor saíssem correctamente pelos orifícios próprios, pelo que optaram por usar orelhas de plástico coladas dos lados).
 
O Presidente, durante uma cimeira em Roma, é raptado pela organização do Cranio Rosso (desculpem, Caveira Vermelha), que agora usa essencialmente o nome Tadzio Santis, o seu nome original; este quer controlar o Presidente de modo a que ele lhe entregue o poder nos EUA (e também que desista das suas ofensivas políticas ecologistas). O Capitão salta para a acção e vai até Roma. Acaba por encontrar a fortaleza do vilão, e depois de algumas cenas de tiroteio e pancadaria fraquitas, com muitos saltos e piruetas (não esqueçamos que o herói é um Super-Atleta), lá consegue atirar o Caveira para fora da fortaleza de modo a esborrachar-se alegremente nuns rocheros, e impedi-lo de detonar uma bomba nuclear que iria matar 70 milhões de pessoas (ou algo do género).

Em resumo: um filme que mutila alguns aspectos essenciais do personagem, com maus actores e com bons actores em maus papéis, com imagem ou muito escura ou muito clara (que em ambos os casos serve para ocultar a desgraça que o filme é) e com músicas lamechas a alternar com banda sonora que se esforça por ser heróica, mas sem o conseguir.
 
Ainda assim, nem tudo é mau. Este filme ensina-nos alguns factos muito interessantes: fitas magnéticas de 1936 mantêm a qualidade do som inalterarada até 1990 (CDs, DVDs e Blu-Rays para quê?!), mesmo com o gravador todo espatifado; antes do controlo paranóico nos aeroportos era perfeitamente possível passar com um escudo metálico na bagagem de mão (pelo menos o Capitão levou o dele para Itália num vôo normal); a tecnologia de próteses de 1990 era melhor que a actual (o Caveira usava uma mão de plástico da mesma maneira que usava a de carne e osso); é perfeitamente possível despistar 2 Porsches com um Fiat 500. O filme mostra ainda outras pérolas, mas estas são as minhas favoritas.
 
Uma curiosidade: o actor principal, Matt Salinger, é o filho de J.D. Salinger, o famoso escritor de "Catcher In The Rye". É óbvio que o filho não partilha a obsessão por perfeição que o pai tinha...
 
Um filme que ensina uma série de lições sobre o que NÃO fazer numa película do género.
 
Um ar tão apatetado como o filme em geral...