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Neste blogue iremos encontrar (ou reencontrar) pedaços da imaginação e criatividade humana nas mais diversas formas e feitios - Livros, Banda desenhada, Cinema, TV, Jogos, ou qualquer outro formato.

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AVISO IMPORTANTE: pode conter spoilers e, em ocasiões especiais, nozes.


terça-feira, 23 de setembro de 2014

Dark City - Cidade Misteriosa

Onde o sol não brilha.

Para além da tradicional referência escatológica, esta expressão é uma das descrições possíveis para a cidade de Dark City, de Alex Proyas.

É um filme muito escuro, como o próprio nome indica. Em Dark City acompanhamos a história de um indivíduo que acorda, amnésico, num hotel, para descobrir que aparentemente matou uma mulher.

O protagonista começa então uma jornada a tentar descobrir a sua identidade, desde o seu nome até se realmente é o assassino em série de prostitutas que tudo indica ser. Pelo caminho, descobre chamar-se John Murdoch, encontra a sua esposa, um psiquiatra aleijado que parece saber muito mais que o que diz e um inspector da polícia determinado em perceber as coisas estranhas que se passam na cidade.

E que coisas estranhas são essas que se passam na cidade?

Para começar, nunca é dia. A noite parece ser eterna e ninguém se lembra da luz do sol, a não ser em memórias. A cidade parece não ter saídas, e as tentativas do protagonista de ir até à praia onde passou a infância, Shell Beach, são constantemente goradas - toda a gente parece conhecer a praia, mas ninguém se recorda do caminho para lá.
Mas o mais grave nem é isso. Todas as vezes que os relógios marcam as 12 horas, toda a cidade se paralisa, ficando toda a gente a dormir.

Murdoch durante um "episódio das 12 horas"

Toda a gente, excepto o protagonista e um conjunto de indivíduos sinistros, os Estranhos. Os Estranhos, um bando de sujeitos com nomes de objectos e afins (Mr. Book, Mr. Hand, Mr. Wall, Mr. Quick e por aí fora), durante essas pausas, modificam a cidade e as vidas dos habitantes - um recepcionista de um hotel barato passa a ser um vendedor de jornais; um operário fabril que mora num casebre torna-se o abastado proprietário da fábrica, e por aí fora.

Os Estranhos em campo.

Os Estranhos são auxiliados pelo psiquiatra, o Dr. Schreber, que injecta algo na cabeça das pessoas - as suas novas identidades e memórias, que o médico aprendeu a destilar e manipular a seu bel-prazer. Ou seja, no momento em que despertam, após a sintonização (é o nome dado a esta alteração da realidade), acreditam que sempre foram a pessoa nova para a qual acabam de ser programados.

Os Estranhos perseguem Murdoch, já que este é o resultado de um implante de memória que funcionou mal (basicamente queriam torná-lo um assassino, a ver se era possível), sendo que isso despertou no protagonista a capacidade de sintonizar, o que não convém aos sinistros personagens.

Murdoch acaba por ser ajudado pelo Dr. Schreber, que secretamente andava a sabotar os Estranhos, e pelo mencionado inspector Bumstead, cujas investigações começaram a revelar o que de mal se passava na cidade.

Dr. Schreber. O meu personagem favorito.

No fim, Murdoch acaba por descobrir a verdadeira natureza dos Estranhos - extraterrestres de uma raça muito antiga com uma mente colectiva e que usam cadáveres como veículo para interagirem com os humanos - e, principalmente, da cidade - que não passa de uma espécie de labirinto gigante em que os Estranhos fazem experiências em humanos, à semelhança das experiências de Schreber num rato num labirinto que se vê no início do filme. É que os Estranhos, sendo uma entidade colectiva, estão a tentar perceber o que faz dos humanos indivíduos únicos.
Eventualmente, Murdoch acaba por enfrentá-los e derrotá-los, usando a sintonização, e passa a controlar a cidade, de modo a tentar criar uma existência melhor para os habitantes, antigos reféns dos Estranhos, arrancados às suas antigas vidas.

O que é que gosto no filme?

Além da história, que integra impecavelmente elementos de mistério policial com ficção científica, todo o aspecto visual. 
A cidade é praticamente uma personagem, sendo uma amálgama intemporal de estilos arquitectónicos, particularmente reminiscente dos ambientes dos policiais noir, lembrando os filmes dos anos 40 e 50. Pessoalmente, faz-me lembrar um pouco a Gotham City versão Tim Burton, o que me agrada muito.
Os Estranhos são muito bem conseguidos, tendo todo um aspecto artificial e mal integrado na realidade, particularmente um deles, uma criança, que é mais sinistra que qualquer um dos seus confederados. No fundo, dão a ideia daquilo que são - alienígenas a tentar passar-se por humanos, mas sem saberem muito bem como. Acabam por parecer saídos de um pesadelo, com muitos aspectos comuns aos Homens de Negro do folclore contemporâneo.

O miúdo Estranho. Ou será o Estranho miúdo?

As actuações dos vários actores - Rufus Sewell, William Hurt, Jennifer Connelly estão à altura do esperado, mas para mim o favorito continua a ser Kiefer Sutherland como Dr. Schreber - um sujeito coxo e com uma ptose palpebral (pálpebra caída, para quem não sabe), com ar de quem teve um AVC e cheio de maneirismos neuróticos.

Vi o filme várias vezes, e é um daqueles que nunca me cansa.

Assembleia dos Estranhos; coisa boa não preparam de certeza...

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