Mas é um bocadinho mais que isso.
É um filme de acção/aventura, mas baseado em histórias de fantasia/horror. Mais concretamente, e porque é uma produção da Universal Pictures, baseado nos filmes de horror dessa produtora. Pelo menos, nos três Universal Monsters mais famosos: Drácula, o monstro de Frankenstein e o Homem-Lobo, estrelas de filmes clássicos nas décadas de 1930 e 1940, por vezes em crossovers a misturar 2 ou até os 3 personagens.
Van Helsing, herói de acção |
Vemos logo no início um piscar de olho a esses filmes antigos; os primeiros minutos do filme recriam a atmosfera dos mesmos: imagem a preto e branco, um castelo imponente, um reencenar da cena em que o Dr. Frankenstein dá vida à sua criatura ("It's alive! It's alive!!!") com uma multidão furiosa e sedenta de sangue à porta, uma aparição do vampiro mais famoso de todos os tempos e a aparente destruição da criatura de Frankenstein num moinho em chamas.
O enredo é relativamente simples, embora combine bem os monstros e o herói, pelo menos tão bem como seria de esperar num filme deste género. Passo a explicar (quem não quiser spoilers, pode parar por aqui):
Drácula, vampiro-mor e flagelo da Transilvânia, indestrutível pelos meios habituais usados para matar vampiros menores, vive com as suas 3 noivas (vampiras) num refúgio secreto. Como bom marido, tenta criar família, mas tem alguns obstáculos. Embora as suas noivas ponham um monte de ovos gelatinosos depois do acasalamento (estamos a falar de centenas), cada um com um vampirinho (tipo gárgula pequenina, mas mais engraçados) lá dentro, há um pequeno mas importante problema - os vampiros-bebé não se aguentam e têm uma propensão incómoda para explodir. Isto, provavelmente, porque os vampiros são mortos-vivos e como tal, não conseguem criar vida nova adequadamente. É preciso arranjar uma solução.
Drácula, o vilão do filme e velho companheiro de copos de Van Helsing |
É aí que entra o bom Dr. Frankenstein, estudioso da vida, da morte e tudo o que está pelo meio. E um incompreendido para a época, cuja necessidade de saquear campas para obter material para a sua pesquisa nem sempre é vista com bons olhos pelos tradicionais camponeses que povoam estes filmes. Ok, não é "nem sempre". É "nunca". Vai daí, o cientista não só é persona non grata em praticamente todo o mundo civilizado como lhe faltam os meios para avançar na pesquisa. Meios esses que o nosso conde faculta de bom grado, dado que planeia usar os resultados de Frankenstein para tentar encontrar a solução para o seu problema.
O monstro de Frankenstein, completo com uma perna pneumática e um cérebro relampejante. Chamar-lhe "monstro" é uma injustiça, dado ser talvez o personagem mais bondoso e gentil do filme. |
A coisa corre mal quando, logo após o cientista animar a sua criatura, o castelo é atacado pelos camponeses, Drácula e Frankenstein desentendem-se (acabando o bom doutor morto) e a criatura é aparentemente destruída, numa cena com muito choro e ranger de dentes por parte das noivas vampiras.
As noivas de Drácula. Num momento, encantadoras... |
...e noutro, metem medo ao susto. |
Entra em cena, então, Van Helsing. Caçador de monstros, persegue e mata Mr. Hyde nas ruas de Paris, antes de ser chamado ao Vaticano, onde está instalada uma Ordem sagrada que se especializou em combater... bem, monstros. Van Helsing, neste filme, é uma espécie de 007 sobrenatural (aliás, o próprio Carl, o frade que desenvolve armas, é reminiscente do Q dos filmes do James Bond); além disso, há vários elementos que sugerem que seja um anjo e não um humano - é essencialmente amnésico, é chamado "A mão esquerda de Deus", aparentemente combate o Mal desde a antiguidade e chama-se Gabriel (ou seja, não é o Abraham Van Helsing do costume). No QG da Ordem é destacado para a Transilvânia, para ajudar os últimos membros da família Valerious, uma família que jurou destruir Drácula, a cumprir esse objectivo.
Chegando lá, descobre que a família é basicamente Anna Valerious, já que o outro membro foi convertido num Homem-Lobo (Lobisomem, pronto...) e que agora serve Drácula.
Anna Valerious. A impor respeito. |
Para abreviar, temos confrontos com os vários vampiros (começando por um ataque das noivas que, curiosamente, nas suas formas aladas parecem mais harpias que morcegos) e com o Homem-Lobo, a descoberta, captura e salvamento da criatura de Frankenstein, as revelações que Drácula só pode ser morto por um Lobisomem, que foi Van Helsing que o matou séculos antes e que Drácula é da linhagem dos Valerious.
Finalmente, Van Helsing, após ser contaminado com licantropia pelo Homem-Lobo, acaba por matar Drácula antes de ser curado com um antídoto. Anna morre no combate, mas com a destruição de Drácula, os espíritos dos Valerious podem finalmente sair do purgatório e ir para o Paraíso (este detalhe tinha a ver com um voto feito pelos ancestrais de Anna que a família só teria repouso eterno após a morte do vampiro).
O Lobisomem. Segundo Carl, "cheira a cão molhado" |
Assim, a história tem os seus pontos de cliché e até é um bocado forçada, mas o conjunto final até é engraçado - desde que tenhamos em vista que é um filme apenas para entreter. E como expliquei, tem os seus pontos interessantes. A homenagem aos filmes de terror antigos, a combinação de vários personagens de "linhagens" diferentes na mesma história, de uma forma coesa, o ambiente soturno perfeitamente adequado ao conto e um Drácula que, bem ou mal interpretado (as opiniões divergem), parece efectivamente um príncipe romeno.
Definitivamente, para ver com uma tigela de pipocas à frente.
Carl, o frade inventor de armas e companheiro de viagem de Van Helsing. O comic relief do filme. Insiste em lembrar que é um frade e não um monge, para se safar com algumas patifarias. |