Na minha adolescência (e início de vida adulta) nos anos 90, e sendo uma fase da minha vida em que eu "devorava" jogos de computador, tive hipótese de desfrutar de um género que teve o seu apogeu nessa época, antes de ficar meio esquecido e, recentemente, começar a contar com uma série de novos títulos (e com ofertas interessantes): as aventuras gráficas do género point & click.
Já falei de algumas aventuras gráficas aqui, sendo a mais antiga a Phantasmagoria, publicada já numa altura em que o género estava em declínio.
Day Of The Tentacle (ou DOTT, como era conhecido), contudo, é outra louça. Vem do tempo áureo dessas aventuras, em que fomos brindados com numerosas peças espectaculares, muitas delas provenientes de duas casas emblemáticas: a LucasArts e a Sierra.
DOTT, datado de 1993, foi um presente da LucasArts e era a continuação (mais uma "sequela solta") de um outro jogo, Maniac Mansion. Aliás, o Maniac Mansion estava incluído no DOTT. Era possível jogá-lo, estando acessível através do uso do computador no quarto de um dos personagens com quem interagíamos.
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Além de fazer uso de coulrofobia, DOTT usava o mítico interface SCUMM nas interacções com o mundo do jogo. |
De resto, não era necessário ter jogado Maniac Mansion (eu, pessoalmente, nunca o terminei) para nos divertirmos com DOTT, embora houvesse referência a eventos do primeiro jogo na história, bem como alguma metafísica (envolvida em certos puzzles) acerca de os personagens do jogo terem dado origem a... um jogo. Bem como a uma série de TV - o que é verdade, pois houve uma série homónima do Maniac Mansion, que pelo que sei, era apenas muito vagamente relacionada com o jogo. Vagamente, como em "série com mesmo nome e alguns personagens com o mesmo nome e pouco mais".
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Os heróis: Bernard, Laverne e Hoagie |
Mas voltando ao DOTT, o jogo era uma delícia. Tínhamos a hipótese de controlar 3 personagens distintos, Bernard (o único "veterano" do 1º jogo, um nerd cuja semelhança física com Bill Gates não me parece coincidência), Laverne (uma assustadora estudante de medicina) e Hoagie (um aspirante a roadie para bandas rock). De regresso estava a mansão e a família Edison do 1º jogo, bem como os tentáculos.
Aliás, a história volvia em torno de um dos tentáculos (sim, o Dr. Fred Edison tinha tentáculos como animais de estimação - e tal como um personagem no jogo dizia, ainda não percebi como é que eles falam e comem por uma ventosa), o maligno tentáculo roxo, que ganha braços após contactar com lixo tóxico e resolve conquistar o mundo.
O tentáculo verde (o bonzinho) pede ajuda aos heróis, e o Dr. Edison resolve mandá-los para trás no tempo, na sua máquina do tempo activada por um diamante de imitação, para impedir a mutação e evitar o embróglio todo. Mas como o diamante era falso, a coisa não corre bem. Bernard fica no presente, Laverne vai parar 200 anos ao futuro, quando os tentáculos governam o mundo, e Hoagie aterra 200 anos no passado, conhecendo personagens históricos como George Washington, Ben Franklin e Betsy Ross, só para nomear alguns.
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Viajando no tempo em grande estilo: em casas de banho de exterior, também conhecidas como... Chron-o-Johns... |
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...conhecendo personagens históricos... |
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...ou descobrindo um futuro desanimador. Para os humanos, isto é. |
Além do humor excelente (tínhamos elementos curiosos, como concursos de beleza para humanos amestrados, que tínhamos de vencer embelezando uma múmia; martelos para esquerdinos e brigadas agressivas do fisco), a mecânica dos puzzles era não linear e muito interessante, por dar envolver precisamente os gaps no tempo. Muitos eram resolvidos com uma acção numa época que produzia resultados noutra (por exemplo, cortar no século XVIII a árvore na qual Laverne ficava encalhada no século XXII), assim como podíamos enviar objectos de umas épocas para outras.
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No futuro sinistro, múmias ganham concursos de beleza! Parabéns, Dead Cousin Ted! |
Recentemente tive oportunidade de reviver a aventura, desta vez numa versão "remastered" em HD lançada há pouco tempo mas completamente fiel ao original. E apesar de a passagem dos anos (e a minha experiência prévia de o jogar múltiplas vezes na adolescência) me ter feito o jogo parecer mais fácil que antes, ainda é uma aventura que vale bem a pena.
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Comparação entre as versões antiga e moderna. A ensaboadela foi essencialmente estética - apesar de se poder optar por um interface novo, o jogo é basicamente o mesmo. Felizmente. |