Aproveitei estes dias de férias para rever uma série de filmes que marcam (parte deles, pelo menos), as minhas memórias de infância: Critters.
Os filmes contam as peripécias e aventuras desses "seres do espaço" (era o título português do primeiro filme) na Terra e arredores, e as desventuras de quem os encontra.
"Critters" é o nome que os americanos dão aos bicharocos quando os encontram, uma deturpação fonética de "creatures", mas também é um jogo com o nome oficial da espécie, que é "crite" (pronunciando-se "crait").
O que são, então, os Crite?
São simplesmente umas criaturinhas com um apetite voraz e que só pensam em comer, preferencialmente "live meat" - sim, animais e mesmo pessoas ainda vivos. A dada altura são comparados a piranhas devido a essa vontade de comer tudo, mas fisicamente parecem mais porcos-espinhos. Bem, parecem um bocado o resultado de uma noite em que um gremlin bebeu demais e em que acordou ao lado de um porco-espinho, a o pensar "NÃÃOOOO"! Em boa verdade, contudo, o aspecto e tamanho deles modifica-se um bocado de filme para filme...
São também maliciosos, espertos, e enrolam-se em bolas para se deslocarem mais rápido, para além de dispararem espinhos envenenados que deixam as vítimas letárgicas (ou pelo menos, meio pedradas) de modo a serem mais vulneráveis.
São giros, de certa forma, se ignorarmos que vivem apenas para comer - e isso inclui, como já disse, seres humanos.
E então, acerca dos filmes:
Um Crite |
O 1º, lançado pela New Line Cinema em 1986, introduz os Crite, que fogem de um asteróide penal e vêm para a Terra, perseguidos por 2 caçadores de prémios, Ug e Lee (e tenho vergonha de admitir que só ao fim destes anos todos é que me apercebi que os nomes deles pronunciados seguidos formam a palavra ugly).
Ug e Lee têm poderes de metamorfose para se integrarem melhor nos locais onde vão à caça. Enquanto Ug adopta a forma da estrela rock "Johnny Steele", identidade essa que lhe "assenta" e que usa consistentemente ao longo da série de filmes, Lee passa a vida a mudar de cara, dado que não se sente bem com nenhuma delas.
Entretando os Crite andam a espalhar o caos pela cidadezita de Grover's Bend, especialmente na quinta da família Brown.
O filme foca essencialmente os acontecimentos de uma noite, em que Ug e Lee caçam os bichos com a ajuda dos Brown, do bebâdo da cidade, Charlie McFadden, não sem os Crite destruírem a quinta enquando estão a tentar fugir do planeta.
No fim, os caçadores de prémios recrutam Charlie, o bebâdo (que reencontra assim um propósito para a sua existência) e reconstroem a quinta dos Brown (aparentemente por magia). Debaixo da quinta fica um depósito de ovos de Crite...
...o que nos leva ao 2º filme. O ano é 1988, os Brown abandonaram Grover's Bend e foram para Kansas City, e a quinta está abandonada. Um rufia encontra os ovos na quinta e depois de mudarem de mãos um par de vezes, acabam pintadinhos e espalhados pelo recinto da igreja para a caçada anual de Ovos de Páscoa, o que conduz ao desastre. Começam a atacar os habitantes da cidade, começando pelo Xerife (disfarçado de Coelho da Páscoa), e Brad Brown, que tinha regressado à vila para visitar a avó, é hostilizado pelos habitantes antes de assumir o papel de herói.
Lee e Ug no seu apogeu. |
Entretando, Ug, Lee e Charlie regressam para terminar a limpeza; Charlie está reabilitado pelas suas experiências como Caçador de Prémios e Lee continua a não encontrar forma que lhe assente (embora passe a maior parte do tempo na pele de uma Playmate semi-amazónica, inicialmente completa com um agrafo na barriga - sim, era o centerfold da revista).
Mais tiroteio, gente devorada, incluindo Lee (e devia abster-me de fazer piadas sobre "comerem a loura"), confronto final com os Crite na fábrica local de hamburguers.
No fim, Charlie assume o papel de Xerife da vila e Brad volta para Kansas City. Aparentemente, os devoradores foram destruídos.
Uma bola composta por dezenas de Crites... |
...e um tipo devorado pela bola. Um mimo. |
Mas não, porque no terceiro filme, passado em 1992, uma família desgraçada que passa por Grover's Bend no regresso de férias leva mais uma ninhada em forma de ovo colada à parte inferior da autocaravana. Aqui a série já estava em declínio e não tinha nem a piada nem a tensão dos filmes iniciais (que já não era muita para começar). Os Crite martirizam os habitantes de um prédio semi-devoluto até Charlie (que os miúdos tinham encontrado no início do filme) vir ajudá-los, após um telefonema de um dos inquilinos do prédio (um velhote que partilhava a paixão de Charlie por notícias sobre ETs). No fim, o prédio arde mas os habitantes são recolocados em casas melhores Charlie, encontra os últimos 2 ovos, só que é impedido de os destruir pelo Conselho Intergaláctico, que não pode permitir a extinção da espécie.
Sim, é o Leo, quando era rapazinho e ainda não sabia o que estava a fazer. |
Um filme já um bocado foleiro que tem, como curiosidade (bem explorada na publicidade actual) a estreia de Leonardo DiCaprio no cinema.
O 4º filme começa onde o 3º terminou - Charlie é contactado por Ug que lhe ordena que coloque os ovos numa cápsula conservadora, onde Charlie fica preso. A cápsula sai da Terra e fica à deriva até ao ano 2045, em que é encontrada em "Saturn Quadrant" por uma nave de recolectores. Ug (agora por alguma razão chamado "Counselor Tetra") contacta-os em nome de uma empresa que se formou a partir do Conselho Intergaláctico (entretanto extinto) e instrui-os no sentido de entregarem a cápsula, sem a abrirem, numa estação espacial.
Obviamente, o capitão da nave, chegados à estação (misteriosamente abandonada) trata de abrir a cápsula, libertando Crite e Charlie. A estação era usada para criar bio-armas e os Crite tentam aproveitar-se disso para se melhorarem.
O resto é óbvio - confusão, mortes e a chegada de Ug com uma espécie de esquadrão da morte para "limpar" os ocupantes e capturar os Crite.
Este filme é pura e simplesmente um falhanço. Ainda tem menos piada que o terceiro, tensão quase nenhuma (tanto mais que os Crite quase nem aparecem, nem se fazem sentir) e não faz sentido. Primeiro queriam exterminar os bichos, depois querem salvá-los a pretexto de preocupações zoológicas e finalmente querem-nos como armas biológicas (Ok, este bocadinho até tem lógica). O comportamento de Ug muda radicalmente - de caçador de prémios convicto a capanga corporativo, e confrontado por Charlie acerca disso, responde com um esclarecedor "Things change, Charlie" (bem, ele era um metamorfo, de facto).
A coisa mais engraçada do filme ainda era ver o Brad Dourif a fazer de gajo normal. Serve apenas para matar hora e meia se não tivermos rigorosamente mais nada para fazer.
"Things change", diz Ug o vira-casacas. Um grande momento da história do cinema. A sério! |
Em resumo, uma série que começa com piada - humor negro misturado com componentes de filme de horror em contexto de ficção científica - mas que perde qualidades de filme para filme (mesmo o segundo era um bocadito apalhaçado em comparação com o primeiro). Um produto dos anos 80 que se prolongou para os anos 90 - e que foi aí que errou a sério...
Ah, a piada do Crite com corte de cabelo a laser. Tinha piada no 2º filme, mas no 4º, era só... derivativo. |